21.3.21


estar em missão como estar na vida é ser esquizofrénico. ou ontem avaliávamos uma opção hoje levantamo-nos a dizer algo como: isso é tudo muito bonito mas onde levo as minhas duas malas de 23kg cada? mais a de dez! e mais as minhas,  acrescentei eu. à tarde já estávamos numa de: ok isto é tudo muito bonito mas eu quero voltar a ter fins de semana. eu até já andei a pesquisar termas.
discutimos assuntos a sérios a brincar. desconstruímos os assuntos. desconstruímo-nos e falamos a brincar como quem fala a sério ainda que entre nós não passe de uma brincadeira. não o é. no momento seguinte saímos para uma atividade e passamos de alegria e brincadeiras sem sentido para organizar uma atividade, cultivando silêncios e reflexão. partilhamos piadas com olhares e gargalhamos para dentro. até irmos a caminho de casa e poder rir a voz alta do que aconteceu. e entre gargalhadas e brincadeiras falar a sério. e entre assuntos sérios fazer piadas. assim se cresce. nesta mixórdia, neste caos organizado e com sentido. a vida não existe para que a levemos a sério. até os desafios se vivem melhor quando ao olhar uma para a outra fazemos piadas das nossas sextas à noite sem cervejas nem bar nem esplanada à beira-mar. há anatomia de grey e batatas no forno e está tudo bem. ontem adormeci com dores de crescimento. hoje adormeço a sorrir como quem se repete está tudo bem. passo a passo construímos caminhos.  pouco a pouco deixamos a vida acontecer-nos. pouco a pouco deixamos a vida florescer-nos.
vivemos na esquizofrenia de não sentir vontade de sair. e quando saímos não querer voltar do tanto que nos sentimos bem. vivemos entre as lágrimas e o sofrimento dos desafios que se avizinham e piadas mais sem sentido da nossa condição e das loucuras que fazemos.  adorava explicar-vos como foi difícil caminhar juntas ao início. mas e porque queremos, porque nos predispomos a percorrer juntas este caminho somos felizes. e sempre que olho para ela para lá dos defeitos vejo a minha aliada e companheira de caminho. a vida aqui é pesada. tudo aqui é pesado nós fazemo-lo ser leve. haja parvoíce, alegria, bom humor e capacidade de nos rirmos do mundo, de nós e dos outros. 
assim é a vida. assim quero viver sempre nesta corda bamba de sou imensamente feliz e completa mas um querer mais. entre o sofrimento e a violência, entre os cenários horríveis que se repetem de casa em casa em todas as classes sociais e até de pais para filhos. entre ouvir histórias que partem o coração entre ver o sofrimento e a violência à minha frente e sonhar, sonhar sempre. não só para mim mas para eles. é eu sonho. eu acredito e confio. e concretizo. não mudo o mundo. não tenho ilusões. mas enquanto houver uma família a ter vontade de mudar de fazer melhor, de querer fazer diferente para o filho ser feliz, plenamente feliz tudo está bem. tudo está bem quando em cem pessoas há uma com vontade de amar melhor. tudo está bem quando vêm às orações e actividades para receber um abraço nosso. o que mais dou é abraços, orações que não são mais que imaginar as pessoas cheias de luz. o que dou mais é amor fazendo questão de me sentar e ouvir como se não tivesse nada para fazer a seguir. porque não tenho. e se tiver deixarei de ter. tudo está bem ainda que eu adormeça a chorar de dores de crescimento e saudades. tudo está bem ainda que adormeça que nem menina de dois anos agarrada a uma manta com o cheiro de quem me faz sentir casa. tudo está bem quando desabo a chorar e a andrea me olha e chora comigo. tudo está bem quando pela primeira vez me sinto livre e adulta na comunicação. pela primeira vez sinto-me adulta capaz de partilhar o que sinto mesmo com medo e insegurança. quando me sinto crescer por dentro com nunca. quando sinto que me amo por dentro e por fora como nunca antes. tudo está bem e se não está nós fazemos ficar. 

tudo está bem quando fazemos cimento para fazer o chão, fazemos ligações elétricas, quando tapamos buracos para os ratos não entrarem. tudo está bem quando dormimos sobre cadeiras porque o chão é de areia e sabe deus que bichos terá como habitantes. tudo está bem quando nem casa de banho temos no sitio onde ficamos por uma semana e temos de ajudar a banhar-nos uma à outra. tudo está bem quando na semana seguinte vamos ao machupichu e o nosso pacote inclui um hotel requintado. tudo está bem quando negociamos melhor que um peruano e terminamos a fazer amizade, porque enfim nós somos nós e o senhor entre risos baixa ainda mais o preço. tudo está bem. tudo está bem sempre que olhamos o lado positivo e fazemos humor com o lado desafiante. tudo está bem sempre que mantivermos a capacidade de rir, amar e sonhar. 

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