9.7.24

 o amor não é como nos filmes, nem nos livros. e eu sei que todos sabemos isto, que todos já lemos e todos já ouvimos esta frase. mas não a vemos e ouvimos vezes suficientes até a sentirmos em nós. deixei as redes sociais que facilitam encontros. não sei se para sempre que eu sei que nunca e para sempre é definitivo demais mas a minha intenção é que seja para sempre. nelas encontrei pessoas bonitas por dentro e por fora. fui muito feliz. fiz pessoas felizes. fiquei triste. e fiz pessoas tristes. julguei pessoas. fui julgada. estar nestas aplicações deixa-nos frios. torna-nos capazes de atitudes que nos magoam e ainda assim fazemos porque comunicar a todas as pessoas que já não estamos interessados e só falamos com elas naquele momento e agora já não faz sentido é pouco e parece triste. mas a verdade é que usamos e somos usados muitas vezes. e a partir de certo ponto simplesmente aceitamos que é assim que funciona. a partir de certo ponto normalizamos deixar de falar sem dizer nada. normalizamos julgar com base em critérios. normalizamos o preconceito. e eu já voltei depois de saber que estas são as regras do jogo. mas agora não quero mais. 

um dos meus sonhos sempre foi e é ter uma comunidade e uma família. e sonhei isso com um homem a meu lado. ainda não foi possível. mas como acreditei que tal como o nuno escreveu o amor também se procura coloquei-me nas aplicações. cresci. decresci. o balanço é tão positivo quanto negativo. evolui. e arrependimentos só do que não fiz. mas deixou de fazer sentido. 

deixar as aplicações também marca o ponto de viragem em que ativamente tentei fazer cumprir esse sonho. abdico dele. abdico de o fazer acontecer. nem todos os sonhos se tornam realidade. e sim isto dói-me. detesto desistir. detesto entregar ao acaso. detesto ter de aceitar que há um sonho na minha vida que não depende de mim. mas continuar só me faz sofrer e comigo outras pessoas. então abdico deste sonho. abdico de caminhar para o realizar. 

é tempo de mudança. é tempo de sonhar coisas novas. de debravar novos mundos interiores e exteriores. é tempo de ir. é tempo de amar. é tempo de me escolher. é tempo de escolher o que me faz feliz. 

sei que comecei com a frase "o amor não é como nos filmes nem nos livros" e não terminei. mas termino. nos filmes e nos livres eles e elas mesmo que tenham a carreira escolhem conciliá-la em nome do amor. eles e elas mesmo que estejam magoados escolhem ultrapassar mágoas e feridas em nome do amor.  há sempre tempo. há sempre paciência. há sempre um final feliz. na vida real há finais incompletos. histórias que ficam por viver, amores que ficam eternamente por acontecer. e que tu por muito que queiras, que faças e cedas nada muda o final. é assim de cruel. na vida real as pessoas habituam-se à solidão e não abdicam dela para construir uma história em conjunto. na vida real é raro as pessoas arriscarem a felicidade que conhecem e têm sozinhas para seguir o seu coração. seguir o coração é coisa de filme de domingo à tarde e romance com final feliz. na vida real não se segue o coração, ignora-se o coração.

escrevo isto e sei que há histórias com final feliz. muitas mais são as outras. muitas mais são os finais felizes de mulheres com uma comunidade de amigos e amigas, CeO de empresas. muitos mais são os finais de famílias com relações problemáticas e caóticas que se mantém unidas pelos filhos, pelo dinheiro, porque "isto sei o que é" e/ou porque é mais fácil. 

na vida real há finais felizes só não implicam casais e pessoas a viverem um romance bonito saudável e feliz. isso é lotaria. se encontraram a vossa saibam geri-la e cuidá-la. mas tenham consciência que é tão normal terem esse "final" como ganhar o euromilhões. e eu que sou perfeccionista nem fui ver as probabilidades. mas devem ser parecidas. 

o meu final não vai ser triste. essa não é a minha essência. vou reinventar-me e descobrir outras formas de ser feliz. apenas a comunidade vai ser diferente daquela que imaginei. apenas abdiquei do meu sonho de viver o amor romântico. cansei-me. vou viver outras coisas. sonhar outras coisas. ser feliz de outra maneira.