14.6.20

casa é onde estás inteira

fazem-me falta os domingos no perú. faz-me falta a minha normalidade. bem sei que lá morria de saudades e que aqui estou perto de quem amo e de quem me faz feliz. tenho saudades do arroz, dos douradinhos e das conversas com a família. tenho saudades de ouvir o padre conrado tocar a buzina sinal de que já estava à porta. tenho saudades de o ouvir. tenho saudades de estar num projecto de amor.  tenho saudades do por do sol. tenho saudades de tudo e ao mesmo tempo não voltava porque sei que não foi nada fácil nem cor-de-rosa e se voltasse não voltava à minha memória. estou no futuro que planeei quando lá estava. estou neste futuro de domingos espaçosos. estou neste futuro onde sou capaz de dizer que não, de me exprimir. é bom ter espaço. é bom ver as coisas arrumadas a ir ao seu sitio. é bom crescer.
muitas pessoas me falavam de chegadas e do quanto doem. a chegada não doeu. não vim ferida da missão. vim da missão inteira. tão inteira que este meu todo demorou a chegar. chegar é como construir um puzzle em que tentas ser cá a pessoa que és lá. sem sucesso. faltam os grupos, as pessoas, falta a vida. falta o amor. falta a felicidade. tenho saudades dos idosos e das declarações de amor todas as quartas-feiras. tenho saudades de cantar aos domingos e de ser a menina do coro. tenho saudades dos sábados que pareciam ter 76horas e dos domingos com mais missas do que era suposto. tenho saudades da amazónia. tenho saudades do mundo. tenho saudades do amor. tenho saudades de cuidar e de ser cuidada. tenho saudades de chegar e ouvir: "ó hermanita isso não são tranças que se façam. venha cá que lhe faço umas novas". mas estou aqui. e aqui sempre que vou ter com os meus amigos volto a essa paula. aí sou só eu a que cuida e aceita ser cuidada. a que é vulnerável. estou aqui a escrever-vos com saudades de casa. com saudades desse silêncio bom entre as pessoas que me faz adormecer de serenidade. logo eu que não consigo adormecer sem me sentir confortável. daqui onde vos escrevo tenho saudades do "boa noite paula. dorme bem" do beijinho na bochecha e dos abraços onde em sinto só eu frágil, vulnerável, envergonhada, atrevida, cantora, feliz, corajosa e intensa. eu. vivo para os sítios e as pessoas que me permitem sentir em casa.  então talvez não sinta saudades dos domingos no perú mas simplesmente de me sentir em casa. estou quase lá.

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