19.11.23

em caso de dúvida amo-me

 são só onze e meia da noite mas na minha cabeça, na minha mente e no meu corpo são quatro da manhã e eu não tenho sono. estou cansada. tenho demasiadas perguntas na minha cabeça. demasiados pesos no meu coração. escolhi o que quis. fiz o que achei ser melhor para mim. e as minhas escolhas trouxeram-me aqui. orgulho-me de estar aqui. mas dias como hoje o céu é mais cinzento. disse um dia alguém sobre mim que quando me lê, me imagina a escrever de chá em riste ou pousado na mesa de cabeceira. hoje estaria a escrever de whisky ou qualquer outra bebida que as pessoas que escrevem usam para esquecer e fazer reset mental. mas eu não sou de beber para esquecer. sou de dramatizar. e ironicamente acredito que na tentativa de ser politicamente correta acabei com assuntos por resolver em atraso. fui empurrado gritos. arrumando raiva. e agora eis-me aqui a gritar o que ficou por dizer. 
estou cansada de dar opinião. cansada de não corresponder às expectativas. não sei se vou querer ter casa minha. não sei se vou querer construir. não sei se vou querer que vocês comprem o terreno. sei que vou querer filhos mas não quero falar sobre isso nem ouvir as piadas da minha avó que hoje acha que não devemos ter filhos neste mundo. também não quero ouvir a minha mãe reclamar porque a informação que sei sobre x acontecimento não deveria ter sido dita ao almoço. não quero ouvir o meu pai a falar alto de mais. não quero ouvir ninguém a preocupar-se comigo. ou como estou. habito uma casa que não me ama nem me conhece e esqueço-me disso. às vezes esqueço-me que a minha casa sou eu. que preciso mais de mim que preciso dos outros. às vezes esqueço-me de me amar. perco-me nas encruzilhadas e cruzamentos de amar o mundo, a família e querer corresponder às expectativas que ninguém pediu que correspondesse, que nem ninguém cobra que eu o faça mas que eu por saber o caminho de cor de vez em quando ainda vou. e assim perdida do mundo e de mim cheguei aqui. a esta insónia à meia noite e dez da madrugada quase a chorar a escrever um texto sobre os meus dramas para me lembrar como me amo, assim, dramática. para me lembrar que sou linda sobretudo quando choro na cama debaixo do edredão de corações pretos. tenho saudades de ser abraçada em silêncio e de cafuné e ao mesmo tempo nem sei porque tenho saudades ou de quem tenho saudades porque a única pessoa que me abraça, me ama e me faz cafuné em silêncio, sou eu. 
ainda não respondeste. ainda não te amo. se te amasse pedir-te-ia para vires a minha casa, para a minha cama habitar este silêncio comigo, abraçar-me e fazer cafuné em silêncio enquanto eu faço dramas - que só acontecem dentro da minha cabeça. tu escutas em silêncio enquanto pensas como é que uma pessoa racional consegue ser extremamente emocional e dramática. mas não dizes nada só habitas o silêncio comigo com a inteligência de quem me sabe. e quem me sabe reconhece que eu preciso de dramatizar antes de ir e fazer acontecer. 

o lado positivo de dramatizar aos trinta e um. é que me leio. abraço-me. aceito cada palavra, cada sentimento. e no final reconheço que algumas coisas foram certeiras, outras foram puro drama de quem está ferida. e está tudo bem. preciso de me lembrar que a vida também é os óculos que tens colocados e a forma como eles te fazem ver a realidade. algumas vezes pode estar enviesada. sinto-me adulta quando ao ler-me aceito e reconheço esses viés e amo cada um deles com a compaixão, a aceitação e o amor que uma mãe aceita um filho. posso cair mil e uma vezes levanto-me duas mil certa que amanhã o sol brilhará. e que eu me amo. muito. imensamente e incondicionalmente. e hoje tal como ontem e todos os dias do futuro esse amor basta-me enche-me e preenche-me. só demorei muito tempo a perceber isso e a permitir que o mundo (e os outros) me amassem de volta.

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